Logan

Avaliação: ✰✰✰✰✰

Logan - EUA, 2017

Direção: James Mangold
Roteiro: Michael Green, Scott Frank e James Mangold

Elenco: Hugh Jackman, Patrick Stewart, Richard E. Grant, Boyd Holbrook, Stephen Merchant e Dafne Keen.

Sinopse: No ano de 2029 Logan vive uma vida amargurada como motorista e cuidando de Chales Xavier, agora com problemas mentais. Sua rotina muda quando descobre que uma criança mutante está sob ameaça de um grupo que quer captura-la para experiências científicas.







17 anos e 9 filmes foram o suficiente para que Hugh Jackman decidisse que estava na hora de aposentar as garras de Wolverine. Tendo ainda sua versão solo, este terceiro e último é seguramente o melhor do mutante.

Se passando no futuro após os eventos de X-Men: Dias De Um Futuro Esquecido, Logan (que também é o título do filme, numa referência a abordagem mais introspectiva do personagem) já está envelhecido e completamente cansado da vida de herói, trabalhando como motorista enquanto vive escondido com Caliban (Merchant) e cuidando de Charles Xavier (Stewart) que está com problemas mentais. Seguindo uma rotina sem propósito ele se depara com a pequena Laura, uma jovem mutante de laboratório que é perseguida por Donald Pierce (Holbrook) cujo objetivo é recuperá-la para a empresa que faz pesquisas científicas.

Mesmo ambientado no ano de 2029, vemos diferenças em relação ao futuro concebido por Brian Singer em Dias De Um Futuro Esquecido. O diretor James Mangold (que também dirigiu o bom Wolverine Imortal) busca uma atmosfera mais suja, empoeirada e natural com elementos mais realistas do que num futuro imaginário. A trama é mais objetiva e dispensa vilões megalomaníacos que querem destruir o mundo, algo que os filmes de super heróis já estão saturados. Aqui o ponto central está na dinâmica de Logan com seus traumas do passado, na sua falta de perspectiva com o futuro e na relação com Xavier e a menina Laura.

Xavier agora em estado de demência consegue trazer naturalmente uma abordagem cansada e doente, mas ao mesmo tempo simpática e dramática contrastando completamente com aquele professor que se mostrava sereno e sábio. Debilitado não só por ter envelhecido, mas por acontecimentos que o abalaram e que por isso ajudaram a manifestar o desequilíbrio de seus poderes, Patrick Stewart oscila facilmente entre o drama e a comédia jamais permitindo que seu personagem soe caricato. A Laura de Dafne Keen é uma personagem fortíssima e consegue exprimir em seu olhar toda sua fúria internalizada. Basta perceber como seus algozes antecipam a ira da garota e a violência que com ela reage demonstra sua força. Já o Donald Pierce vivido por Boyd Holbrook é um vilão seguro, mas que consegue demonstrar receio em certas situações, como por exemplo quando pede para Laura não mostrar suas garras sabendo de sua capacidade destrutiva.

E finalmente Hugh Jackman entrega a Logan a sua faceta mais dramática e consistente: de andar manco, com barba e cabelos grisalhos e bagunçados, roupas sempre amarrotadas, olhos avermelhados da bebida e noites mal dormidas, além de feridas que demoram a cicatrizar devido seu poder regenerativo estar acabando. Pontos positivos para a maquiagem do filme que consegue convencer pelo realismo das feridas. Logan mais do que nunca segue completamente desesperançoso na humanidade e renega qualquer coisa que o leve de volta aos tempos de herói, não se importando em usar seus poderes para matar com extrema violência aqueles que o provocam. Porém, o roteiro abre espaço para momentos sentimentais que lembram o personagem de sua natureza solitária, como quando tem que conversar com Laura ou proteger um grupo crianças em certo momento da projeção (isso soa familiar, não é?).

A classificação indicativa de 18 anos foi o que permitiu ao filme trazer uma violência que, embora extrema em alguns momentos, jamais soem gratuitas ou atiradas para impressionar, salientando o real sentido de seu uso. As referências são outro ponto interessante do longa que citam momentos de filmes anteriores, seja nos diálogos ou quando a câmera foca em determinados objetos, mas também quando decide utilizar trechos de Os Brutos Também Amam para estabelecer a ligação narrativa do filme com a história. Além de utilizar de forma interessante o fato de os X-Men serem heróis retratados em quadrinhos de um filme baseado nestes onde até as páginas que mostram acontecimentos narrados em forma de desenhos e balões podem ser usados como fonte histórica, ainda que tenha elementos fantásticos.

Por mais que Logan seja um filme bem construído e focado em seus personagens, não se pode negar que ele toma algumas decisões estranhas, para não dizer tolas, como por exemplo: colocar a jovem mutante Laura para dirigir um carro em certo momento da projeção ou então fazer com que um grupo de crianças mutantes tenham que usar seus poderes apenas quando já estão sob perigo, quando poderiam ter usado antes apenas para fazer com que o personagem principal vá para ação. Mas estes são detalhes que não prejudicam a história.

Finalizando com uma imagem icônica e bonita que mostra em destaque um X feito com pedaços de gravetos, infelizmente logo em seguida a beleza da cena é quebrada por uma música cujo ritmo não combina com o sentimento deixado pelo simbolismo que acabamos de ver. Neste sentido, a magistral “Hurt” de Jhonny Cash vista no trailer ficaria muitíssimo melhor apropriada. Ainda bem que a trilha de Marco Beltrami consegue evocar toda a introspecção que o filme exige.

Então este terceiro filme do mutante mais famoso dos X-Men é sem dúvida alguma o melhor do herói e um dos melhores do grupo de mutantes. O que restará agora é a saudade de um personagem tão complexo e sofrido, mas também certa felicidade por saber que ele finalmente encontrou a paz que queria.

Domingo, 12 de março de 2017


Por Aquiman Costa 

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