Avaliação: ✰✰✰✰
Silence -
EUA, 2016
Direção: Martin Scorsese
Roteiro: Jay Cocks e Martin Scorsese
Elenco: Andrew Garfield, Adam Driver e Liam Neeson.
Sinopse: Dois
padres jesuítas portugueses vão ao Japão a procura de seu mentor e para
expandir a doutrina católica, porém são barrados pela política do país que não
permite o crescimento de religiões ocidentais em sua cultura.
À primeira vista o novo
filme de Martin Scorsese parece reprisar o contexto de A Missão do diretor Roland Joffé, mas Silêncio utiliza uma abordagem mais interna, preferindo que as
imagens e gestos falem mais que diálogos. E aqui somos apresentados aos padres
portugueses Sebastião Rodrigues (Garfield) e Francisco Garupe (Driver) que
aceitam a missão de ir ao Japão em busca de seu mentor, o padre Cristovam
Ferreira (Neeson), mas também de catequização de povos japoneses inclinados ao
cristianismo. É então que descobrem que o governo japonês persegue possíveis influenciadores
da doutrina cristã para protegerem sua cultura e religião.
Andrew Garfield faz uma
dobradinha com a temática religiosa – ele interpretou o religioso aspirante a
médico de guerra Desmond Doss no filme de Mel Gibson em Até O Último Homem - e interpreta Sebastião como um padre convicto
e fiel a sua religiosidade, porém com mais sutileza diferentemente do seu
personagem no já citado filme de Gibson. Adam Driver interpreta Francisco como
um padre mais desconfiado e não tão purista quanto Sebastião, servindo como uma
espécie de balança que por vezes confronta as ações dos dois. E por último
temos Liam Neeson com seu Cristovam Ferreira que mais uma vez empresta sua já
conhecida faceta de mentor, mas aqui sob o comando de Scorsese mostra-se menos
egocêntrico e mais humilde quanto a aceitação de suas escolhas no que se refere
a cultura japonesa.
Cultura essa que parece ser
mal vista durante a primeira hora de filme, pois o que vemos são como os
japoneses, pelo menos a maior parte ligadas ao governo, são cruéis e optam por
torturas mais psicológicas do que físicas. Mas o próprio filme consegue colocar
o ponto de vista dos personagens japoneses, também através da figura de
Cristovam percebemos nuances de percepções que são diferentes ou até mesmo incompreensíveis
para nós ocidentais e o martírio de Sebastião faz uma ligação com o sofrimento
de Jesus (principalmente numa cena em que Sebastião se olha no reflexo da água),
mas que deixa bem claro que ele não é o filho de Deus e por vezes se mostre um
tanto arrogante por permitir certas ações do governo japonês em prol de manter
sua fé inabalável.
Com uma fotografia que
privilegia paisagens cheias de neblina e planos-detalhes focados nos rostos e
gestos de seus personagens, além de uma trilha que opta por captar o som
ambiente em vez de uma trilha mais marcante, Silêncio trata dessa abordagem mais íntima da fé e suas
contradições quando comparadas a outra cultura. Poderia ser um filme melhor se
não fosse talvez tão longo ou se não tentasse trazer uma boa imagem da missão
dos padres, já que sabemos que a expansão do catolicismo gerou muitas mortes,
conflitos e que pelo menos os japoneses estavam tentando proteger a sua. Bom,
ao menos o filme dá esse espaço de contra argumentação, o que é uma boa coisa,
ainda que a violência de ambas as partes seja injustificável.
Domingo, 19 de março de
2017
Por Aquiman Costa
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