Avaliação: ✰✰✰✰
Le
jeune Karl Marx – FRA/ALE/BEL, 2017
Direção: Raoul Peck
Roteiro: Pascal Bonitzer e
Raoul Peck
Elenco: August Diehl, Stefan Konarske, Vicky Krieps, Olivier
Gourmet e Ivan Franek
Sinopse: Karl Marx é um
jovem jornalista casado com Jenny e estudioso do comunismo, com ajuda de
Frederich Engels trabalham para criar obras essenciais para formação do
pensamento socialista.
Um filme sobre o início do
pensamento marxista é interessante, uma pena que o mundo parece estar se
fechando em pensamentos superficiais e cada vez mais conservadores onde estamos
banhados em uma disputa ideológica cada vez mais acirrada, inclusive no Brasil.
O grande triunfo de O
Jovem Karl Marx é poder mostrar o princípio do pensamento de Marx e os
intelectuais da esquerda mundial através de diálogos que sintetizam e pontuam
eventuais discordâncias entre vários pensadores famosos que se conheceram
naquela época. Karl Marx (Diehl) constantemente vai à prisão ou é repreendido
seja pela força policial ou política do qual se opõe, forçando-o a escrever
artigos e até procurar por empregos para sustentar sua esposa Jenny (Kieps) e
suas filhas. Rodeado de intelectuais, Marx mostra de forma respeitosa em muitos
momentos suas divergências, sempre se mostrando disposto a se colocar a frente
do pensamento comunista, ainda que em determinada cena ele apareça “escondido”
entre os trabalhadores, indicando que seu protagonismo na história não é nada
sem a presença de seus companheiros, entre eles seu amigo Engels (Konarske),
Proudhon (Gourmet), Bakunin (Franek) e porque não sua esposa Jenny.
Contudo, o filme dá espaço
para a também juventude de Friederich Engels: trabalhando para seu pai, um rico
empresário, ele se sente incomodado com a situação dos(as) trabalhadores(as) e
a forma como são tratados no manuseio das máquinas e as jornadas desgastantes
de trabalho. Esse tempo investido situa o espectador a apostar não só na
amizade entre Marx e Engels como a complementariedade de seus pensamentos, o
que ficou claro em obras como Manifesto Comunista e O Capital. Afinal, os dois
são praticamente indissociáveis, sendo estudados tanto pela Sociologia e pela
História de forma única.
O grande atrativo do filme
é justamente poder sintetizar em forma de diálogos tantos pensamentos e
concepções acerca do socialismo, uma visão de sistema que atualmente é
demonizada ao extremo, vide as recentes tentativas no mundo de revisionismo
histórico defendidos por grupos neonazistas e conservadores, além da eleição de
Donald Trump e as controversas polêmicas acerca do governo da Coréia do Norte.
O fato é que a disputa ideológica não acabou com a queda do muro de Berlim e no
mundo todo ela se faz necessária, o que impede o avanço das ideias e uma maior
compreensão das pessoas são justamente a superficialidade com que grupos
extremistas tratam certas discussões. No Brasil, por exemplo, após o
impeachment de Dilma Rousseff uma crescente onda conservadora tomou de conta do
congresso e da presidência que força a cada dia um regresso em termos
econômicos, culturais e de trabalho à época da revolução industrial. A
internet, responsável por dar voz ao povo não consegue, contudo, abafar o
discurso dominante, ainda que a busca pela representatividade e o debate sobre
direitos trabalhistas se mantenha forte.
A questão é que o filme
dirigido por Raoul Peck se mostra essencial para o aprofundamento e debate
sobre o sistema político e a forma como queremos um mundo para que os direitos
das minorias sejam assegurados. O tom melancólico e acinzentado do filme traz
esse sentimento de tristeza em relação ao mundo, mas as atitudes dos
personagens e suas discussões é que contrapõe esse clima.
Fechando o terceiro ato
enquanto Marx e Engels iniciam a obra que é o marco inicial de teoria e prática
do pensamento comunista para o proletariado O Manifesto Comunista, o filme atualiza e dar o valor atemporal as duas
obras criadas pelos pensadores sob imagens que vão das revoluções e guerras até
a crise econômica atual, dando certo destaque a Che, Mandela e até John
Kennedy, preferindo também por não mostrar outros importantes nomes
responsáveis pela difusão do socialismo, até porque sabemos que nem todas as
experiências geraram bons resultados, mas o que fica é a lição de que cada vez
mais Marx, Jenny e Engels são de fundamental importância para entendermos as transformações
sociais e econômicas do mundo.
Por Aquiman Costa
Terça-feira, 03 de outubro
de 2017
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