Avaliação: ✰✰✰
Spider-Man Homecoming - EUA, 2017
Direção: Jon Watts
Roteiro: Jonathan Goldstein, John Francis Daley, Jon Watts e
Christopher Ford, Chris McKenna e Erik Sommers.
Elenco: Tom Holland, Michael Keaton, Jon Favreau, Zendaya,
Jacob Batalon, Laura Harrier, Tony Revolori, Donald Glover, Tyne Daly, Marisa
Tomei e Robert Downey Jr.
Sinopse: O
adolescente Peter Parker se sente frustrado por não conseguir ter independência
no uso de seus poderes, sendo vigiado por Tony Stark e Happy Hogan. Mesmo assim
descobre os planos do Abutre que usa restos de tecnologia alienígena e do
próprio Stark.
Sou fã do Homem-Aranha
desde criança quando passava na TV a famosa série animada dos anos 90 e quando
o primeiro filme do herói chegou ao cinema dirigido por Sam Raimi e
protagonizado por Tobey Maguire minha reação foi de alegria e contemplação por
algo tão maravilhoso que tinha acabado de presenciar. Com uma continuação que é
considerada uma das adaptações de histórias em quadrinhos mais maravilhosas de
todos os tempos, infelizmente o terceiro filme ficou sendo considerado o mais
fraco da trilogia, o que não quer dizer que seja um filme ruim. Tudo bem, ele
tem lá seus exageros, mas se sustenta bem por já termos familiaridade com os
personagens principais e a direção de Raimi, fora que tem uma bela trilha
sonora e ótimos efeitos visuais. Claro que o problema em si não foi do Sam
Raimi, mas da própria Sony que impôs a presença de certos personagens, vilões e
o clima nos estúdios acabou ficando insuportável, obrigando o diretor a
cancelar o quarto filme quando já estava sendo iniciado.
O resto da história vocês
já sabem.
Veio o reboot chamado Espetacular Homem-Aranha que recontava a origem de Peter Parker com
informações novas aqui e ali para dar um ar de novo, quando na verdade tudo já
tinha sido apresentado com perfeição na trilogia iniciada em 2002, o resultado
foi um filme fraco, sem o brilho dos filmes anteriores até que veio Espetacular 2 trazendo uma abordagem
mais original, mas ainda com os defeitos vindos das pontas soltas do roteiro
anterior. O resultado insatisfatório fez a Sony cancelar mais uma vez a
franquia do aracnídeo e trazendo a solução que seria talvez a mais acertada: se
unir com a Marvel para conseguir trazer de volta o personagem nos eixos. Em
menos de 15 anos Peter Parker já passou pelo rosto do querido e lembrado Tobey
Maguire, passando por Andrew Garfield e agora parecendo voltar a normalidade
com Tom Holland.
E esta nova aventura do
escalador de paredes não decepciona.
Homem-Aranha:
De Volta Ao Lar traz o ar juvenil que o herói tinha
apresentado no primeiro filme da trilogia de Sam Raimi, mas aqui com enfoque
ainda maior, abordando suas reações ao descobrir o que seu corpo e sua roupa
agora tecnológica criada por Tony Stark (Robert Downey Jr.) pode fazer e sua
vivência no ambiente escolar. Ao passo que depois dos eventos de Capitão América: Guerra Civil, Peter
Parker está sob vigilância de Tony e principalmente Happy Hogan (Jon Favreau)
para que não tente fazer atos heroicos dos quais não tenha como arcar. Parker,
porém que provar que tem responsabilidade suficiente e se sente frustrado por
fazer apenas pequenos salvamentos – alguns sem grande sucesso – chegando até a
dançar a pedido de um cidadão.
Neste espaço de tempo o
vilão Abutre (Michel Keaton) vive planejando suas ideias através de
equipamentos deixados pelos Vingadores e o próprio Tony Stark criando seu
próprio laboratório com ajuda de seus parceiros, daí a referência à ave se
encaixam bem ao propósito do personagem, pois vive de catar restos para
sobreviver. Da mesma forma se encaixa bem o visual de Keaton e até sua escolha
para o papel: no primeiro ele usa um colete de aviador com plumas que lembram a
ave que representa, já no segundo sua escolha se deve por ter protagonizado o
filme Birdman (2014), o que é mais do
que apropriado.
Por se tratar de um filme
com abordagem adolescente é interessante como o filme já começa apresentando o
logo da Marvel Studios ao som da trilha de Michel Giacchino reinterpretando o
tema clássico da animação dos anos 60, toda essa inspiração parece não voltar
ao longo de mais de 2 horas de filme, com destaque para alguns momentos de
heroísmo do Aranha e o tema do Abutre. Acompanhado do seu amigo Ned (Jacob
Balaton) – que é o personagem que possui as melhores piadas de todo o filme -,
Peter se mostra um rapaz desajeitado e sempre surpreso a cada atitude heroica
ou descoberta de suas habilidades, o que o leva também a momentos interessantes
e sutis quando tem que se ver obrigado a correr ou até usar árvores para
perseguir os vilões, já que mora em um bairro com poucas possibilidades para
uso dos poderes.
O Peter Parker de Tom
Holland é realmente um jovem inseguro e deslumbrado, basta notar como ele
registra cada acontecimento envolvendo seus poderes e conversas com Stark, uma
espécie de releitura do seu hobbie de
fotografar que já é conhecido pelo público. E a jovialidade da narrativa não
para por aí: em alguns momentos as mensagens trocadas por Peter e Happy surgem
na tela mostrando como se dá a comunicação hoje em dia, bem como a interessante
e característica maneira como Parker levanta a máscara até a metade do rosto para
falar ao celular. As referências a Clube
Dos Cinco e a Curtindo A Vida
Adoidado se fazem presentes em praticamente toda a história, tanto no que
diz respeito a ambientação, como na interação entre seus personagens chegando
até ao extremo de usar uma cena deste último para mostrar que realmente bebeu
da fonte de John Huges. Aliás, de
referências o filme está cheio: desde menções a Star Wars até Lego e
passando ainda pela trilogia de Sam Raimi: em determinado momento Ned fala “Se eu fosse você subiria num prédio e
lançava uma teia para saber até onde alcança.” chegando a referenciar a
clássica cena do beijo no primeiro filme e a cena do trem em Homem-Aranha 2.
Tony Stark aqui tem pouca
presença, mas é suficiente para mostrar que o personagem ainda tem relevância
no universo Marvel: tornando-se quase como uma figura paterna para Peter, Stark
chega a exclamar “Nossa, estou parecendo
meu pai!” e suas aparições dão um eixo moral e significado ao lema clássico
lema do herói “com grandes poderes vem grandes responsabilidades”. O mesmo não pode ser dito pela agora jovem
tia May (Marisa Tomei) que aqui tem pouca função sendo mais utilizada como
alívio cômico por causa da sua beleza. Já Michel Keaton confere dimensão ao seu
Abutre e em determinado momento sabemos que ele não tem intenções de matar
ninguém, mas confere um ar de seriedade e tensão em uma cena dentro do carro
quando, ao fazer uma descoberta em sua mente, muda de expressão e essa mudança
é realçada pela luz vermelha do semáforo que cobre seu rosto. Outra cena que
tem função parecida é quando Peter se olha sobre uma poça d’água e vê seu rosto
divido com a máscara do Aranha. Além do mais, é neste contexto que Tom Holland,
por sua vez, mesmo ciente de seus poderes, confere também medo e tristeza ao se
deparar com um momento difícil.
As cenas de ação nesta
nova aventura são o ponto mais fraco: ainda que apresente aqui e ali momentos
de tensão e eficiência, como, por exemplo, na cena onde o navio se reparte e o
Homem-Aranha tenta juntar suas partes ou na construção da tensão onde o herói
precisa realizar um salvamento em uma torre, estas jamais soam memoráveis,
sendo ainda sabotadas pela luta final em um avião com cenas muito escuras e
cheias de cortes, ficando quase impossível compreender o que se passa na tela. Outro fator pouco atrativo é que o
Homem-Aranha de De Volta Ao Lar
surge, mais do que nunca, como um boneco digital chegando a soar quase como um
desenho animado.
Mesmo sendo uma boa
adaptação para o universo Marvel, este novo Homem-Aranha ainda não chega a ser
melhor que os dois primeiros filmes da trilogia de Raimi – que considero como
obras praticamente impossíveis de serem superadas -, mas que diverte e
apresenta sutilezas e reinterpretações bem vindas ao contexto do personagem. Seu
estilo jovial e cômico é visto inclusive nos créditos finais a partir de
desenhos e colagens como se fosse um caderno de um estudante, finalizando com
uma cena pós-créditos que é surpreendentemente divertida e irônica, sendo uma
das melhores cenas pós-créditos desse universo cinematográfico. Para um
reinício que não perde mais tempo recontando a origem do seu protagonista, já é
um bom começo.
-Nota: além da cena
pós-créditos, há uma cena durante os créditos.
Por Aquiman Costa
Quarta-Feira, 26 de julho
de 2017
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